Panorama da Primeira Infância: pesquisa mostra o que o Brasil sabe, vive e pensa sobre os primeiros seis anos de vida
Pesquisa realizada pela Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal com o Datafolha traz dados inéditos da percepção da sociedade brasileira sobre esta fase da vida
Publicado em 04/08/2025 12:34, por Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal

A pesquisa “Panorama da Primeira Infância: O que o Brasil sabe, vive e pensa sobre os primeiros seis anos de vida”, realizada pela Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, em parceria com o Datafolha, revela que mais da metade da população brasileira (84%) não considera os anos iniciais como fundamentais para o desenvolvimento humano. O lançamento faz parte das iniciativas da campanha “A primeira infância é pra vida toda”, em celebração ao Mês da Primeira Infância.
Para 41% dos entrevistados, o maior pico do desenvolvimento físico, emocional e de aprendizagem ocorre na idade adulta, a partir dos 18 anos. Outros 25% acreditam que é na adolescência, entre 12 e 17 anos. Apenas 15% citaram a primeira infância – entre 0 e 6 anos.
O levantamento ouviu 2.206 pessoas em todo o Brasil, sendo 822 responsáveis diretos por crianças de até seis anos. O desconhecimento é maior entre pessoas do interior, com menor renda e escolaridade.
Considerada uma “janela de oportunidades”, é na primeira infância que o ser humano se desenvolve mais, e mais rápido. Nesse período, formam-se as bases do desenvolvimento cognitivo, físico e socioemocional. Até os 6 anos, o cérebro realiza 1 milhão de sinapses por segundo e 90% das conexões cerebrais são estabelecidas.
A pesquisa revelou, ainda, que 42% dos brasileiros desconhecem ou não sabem o que significa o termo “primeira infância”. E mais: apenas 2% da população sabe identificar corretamente que essa fase vai de 0 a 6 anos de idade. Entre os cuidadores, o índice sobe para 4%.
Amor e atenção são prioridade de cuidado na primeira infância
A pesquisa também procurou entender o que os cuidadores consideram mais importante na criação de bebês e crianças pequenas. Amor (43%) e carinho (33%) são apontados como fundamentais, especialmente para as crianças de 0 a 3 anos, onde o índice aumenta para 46% e 39%, respectivamente. Já frequentar creches e pré-escola é tida como fundamental para 14% da população.
Para Mariana Luz, CEO da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, a percepção sobre a importância dos vínculos é uma evolução no entendimento sobre cuidados com as crianças. “Na primeira infância, a qualidade das interações e do ambiente impacta diretamente o desenvolvimento da criança, com consequências para toda a vida. Relações positivas e amorosas tendem a fazer com que as crianças cresçam mais seguras e independentes.”
No que se refere às principais práticas para o desenvolvimento infantil, respeito aos mais velhos aparece como o item mais importante (96%), à frente de frequentar creche e pré-escola (81%) e deixar a criança livre para brincar (63%).
“É revelador que o respeito aos mais velhos seja considerado mais importante para o desenvolvimento infantil do que brincar livremente ou frequentar unidades de educação infantil. Isso mostra como valorizamos a obediência acima de experiências fundamentais para o desenvolvimento pleno, como o brincar, que é um dos principais meios de aprendizagem da criança pequena, e a frequência à creche e pré-escola”, analisa Mariana Luz.
Panorama da primeira infância: violência ainda persiste
“Panorama da Primeira Infância: O que o Brasil sabe, vive e pensa sobre os primeiros seis anos de vida” também procurou entender quais as estratégias disciplinares utilizadas pelos cuidadores. Conversar com a criança e explicar o erro é o meio mais relatado (96%), seguido por acalmar e retirá-la da situação (93%). No entanto, 29% dos entrevistados admitiram o uso de práticas violentas, como palmadas e beliscões, inclusive com crianças de até 3 anos.
“O uso da violência impacta profundamente o desenvolvimento cognitivo, emocional e social das crianças, deixando marcas que vão muito além das lesões físicas. Pode gerar traumas silenciosos, persistentes e, em muitos casos, irreparáveis”, aponta Luz.
58% dos entrevistados também disseram colocar a criança de castigo e 43% relatam gritar ou brigar como forma de disciplina. Apesar disso, apenas 10% acreditam que os gritos funcionem como métodos disciplinares.
Tempo de tela na primeira infância preocupa
Em média, as crianças de 0 a 6 anos passam 2 a 3 horas por dia em frente a telas, sendo que 78% das crianças de até 3 anos e 94% das de 4 a 6 anos têm esse tipo de exposição diariamente. Entre os efeitos percebidos, predominam os negativos: 56% acreditam que o uso excessivo de telas pode prejudicar a saúde e 42% disseram que limita a socialização das crianças. A Sociedade Brasileira de Pediatria não recomenda telas para menores de dois anos e, após esse período, o uso deve ser limitado a uma hora, sempre com acompanhamento.
“Diversos estudos mostram o uso excessivo dessas tecnologias na infância pode afetar negativamente o desenvolvimento infantil, causando problemas como obesidade, isolamento social, dor muscular, déficit de atenção, hiperatividade e queda no rendimento escolar. No entanto, essa pesquisa nos mostra a dificuldade de retirar as crianças de frente das telas”, pondera Luz.
“Não podemos esquecer também que, para algumas famílias, o celular pode atuar como uma rede de apoio, uma distração para que a mãe ou cuidadora possa realizar outras tarefas. Não podemos julgar essa mãe, mas oferecer alternativas que substituam isso”.
Nas respostas da pesquisa “Panorama da Primeira Infância”, a maioria dos responsáveis acredita que incentivar atividades ao ar livre, estabelecer horários fixos e limitar o tempo diário de uso são as melhores formas de controle.
Como foi feita a pesquisa “Panorama da Primeira Infância”?
A pesquisa “Panorama da Primeira Infância: O que o Brasil sabe, vive e pensa sobre os primeiros seis anos de vida” foi realizada entre os dias 8 e 10 de abril de 2025 com uma amostra nacional, por meio de entrevistas presenciais em pontos de fluxo populacional. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para a amostra geral e 3 pontos para os responsáveis por crianças. No total, 2.206 entrevistas realizadas (amostra nacional), sendo que 31% são responsáveis pelo cuidado de bebês e crianças de até 6 anos.