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Estudo revela crescimento dos casos de violência na primeira infância

“Prevenir a violência contra crianças não é uma opção, é uma urgência moral, social e política”, diz Mariana Luz ao defender ações imediatas e integradas para proteção da infância

Published on 25/06/2025 09:50, by Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal

Menina usando vestido vermelho e de pés descalços
Foto: Júlio César Almeida/Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal

O aumento dos casos de agressões e mortes contra crianças de 0 a 4 anos acende um sinal de alerta e revela um cenário alarmante da violência na primeira infância no Brasil. O número de homicídios de bebês e crianças nessa faixa etária cresceu 15,6% em 2023, segundo o Atlas da Violência 2025, divulgado em maio pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). A taxa de homicídios alcançou 1,2 casos por 100 mil habitantes, o maior índice desde 2020. Apesar do aumento, os dados indicam uma redução de quase 30% em relação ao início da série histórica, em 2013. Ao todo, de 2013 a 2023, 2.124 crianças de 0 a 4 anos foram assassinadas no Brasil.

Além de homicídios, o relatório destaca o aumento de outros tipos de violência não-letais, como violência psicológica, negligência/abandono, violência física e violência sexual. Entre crianças de 0 a 4 anos, os casos de violência física registraram um aumento alarmante de 52,2% entre 2022 e 2023, segundo dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), ferramenta do Ministério da Saúde usada pelo Atlas para monitorar ocorrências em todo o país. O crescimento faz parte de um cenário mais amplo de agravamento da violência contra crianças e adolescentes. Em 2023, foram registrados 115.384 atendimentos relacionados a diferentes formas de violência – um aumento de 36,2% em comparação ao ano anterior.

“Urgência moral, social e política” 

Os dados demonstram que a violência contra a primeira infância tem múltiplas dimensões e precisa ser enfrentada com ações intersetoriais. A vivência da violência impacta profundamente o desenvolvimento cognitivo, emocional e social das crianças, deixando marcas que vão muito além das lesões físicas. Mesmo quando não leva à morte, pode gerar traumas silenciosos, persistentes e, em muitos casos, irreparáveis. 

Diante desse cenário, torna-se evidente que não basta reagir aos casos já ocorridos: é preciso agir de forma preventiva, estruturada e contínua. “Esperar a tragédia acontecer para agir é falhar com toda uma geração. Prevenir a violência contra crianças não é uma opção – é uma urgência moral, social e política. Cada bebê que morre ou sofre em silêncio revela o abandono de um sistema que deveria protegê-lo desde o berço”, reforça a CEO da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, Mariana Luz.

A violência mais perto do que imaginamos

O salto nas agressões físicas contra as crianças pequenas evidencia a urgência de ações de proteção da primeira infância, principalmente no ambiente doméstico. Segundo o Atlas, 67,8% dos casos de violências não letais ocorreram onde a criança deveria estar mais segura: dentro de casa. Os demais locais aparecem com percentuais significativamente menores (veja abaixo), o que reforça o impacto da violência intrafamiliar no começo da vida:

Tabela com a distribuição do local de violência e faixa etária da vítima

Reconhecer e enfrentar a violência doméstica contra crianças é um passo essencial para romper com esse ciclo e construir um futuro mais seguro, saudável e justo para todas as infâncias. Para Mariana Luz, “quando o lar se torna o lugar do medo, não só destruímos a infância e causamos traumas imensuráveis nessa criança, como também perpetuamos um ciclo de violência e dor que atravessa gerações. Ignorar essa realidade é permitir que ela se repita”.

Ao longo da série histórica, os registros de violências contra crianças de 0 a 4 anos apresentaram um crescimento alarmante, revelando um cenário de extrema vulnerabilidade na primeira infância. De 2013 a 2023, os casos de violência sexual aumentaram 383,4%, seguidos por um crescimento de 259,6% nas notificações de negligência e de 195,7% nos registros de violência física.

Os pesquisadores do Atlas da Violência alertam que, embora tenha havido um aumento expressivo nas notificações de violência contra crianças, parte desse crescimento pode estar associada à ampliação da cobertura e da qualidade do Sinan, que possibilitou maior visibilidade e registro dos casos. Além disso, observa-se uma tendência temporal comum: crescimento das notificações até 2019, uma queda significativa em 2020 – primeiro ano da pandemia de covid-19, possivelmente devido à redução do acesso a serviços de saúde e proteção – e retomada dos registros nos anos seguintes. Esses fatores indicam que, embora os dados revelem uma situação grave, eles também refletem o aperfeiçoamento da capacidade de monitoramento, trazendo à tona casos antes invisibilizados.

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