Impactos da crise climática na primeira infância preocupam mais de 80% da população

Efeitos sobre a saúde são os mais citados pelos brasileiros, segundo pesquisa da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal e Datafolha

Published on 02/10/2025 10:12, by Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal

Criança com camiseta amarela rega plantas em um jardim usando um regador colorido.

Crianças que estão na primeira infância não têm apenas o futuro, mas também o presente comprometido pelas mudanças do clima. A crise climática já deixou de ser uma hipótese, é uma realidade concreta e seus efeitos já fazem parte do nosso dia a dia.

A percepção desses impactos também tem se tornado mais evidente, como destaca a nova pesquisa Panorama da Primeira Infância: o impacto da crise climática, desenvolvida pela Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal em parceria com o Datafolha.

O levantamento mostrou que mais de 80% da população está preocupada ou muito preocupada com os efeitos da crise do clima em bebês e crianças de 0 a 6 anos.

A saúde aparece como a principal fonte de preocupação: 71% dos entrevistados acreditam que as mudanças climáticas afetarão a saúde das crianças.

A pesquisa também revelou que 39% dos entrevistados acreditam que as crianças sofrerão maior risco de enfrentar desastres naturais, como enchentes, queimadas e secas, e 32% apontaram possíveis dificuldades no acesso à água limpa e aos alimentos.

“Em qualquer desastre climático, a primeira infância é o grupo mais vulnerável, sofrendo danos imediatos à saúde física e socioemocional e riscos ao seu desenvolvimento. Por isso, é essencial que os programas e serviços de enfrentamento dessa crise incluam a proteção dos direitos de bebês e crianças como uma prioridade”, afirma Mariana Luz, CEO da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal.

O documento “A primeira infância no centro do enfrentamento da crise climática”, desenvolvido pelo Núcleo Ciência pela Infância (NCPI), destaca evidências científicas desses impactos: estresse térmico, insegurança alimentar e migrações forçadas estão entre as principais ameaças ao desenvolvimento integral de bebês e crianças.

“O cenário é preocupante à medida que eventos extremos — como ondas de calor, chuvas torrenciais, secas prolongadas e incêndios florestais — se tornam cada vez mais frequentes, intensos e imprevisíveis, ameaçando áreas onde quase 1 bilhão de meninos e meninas vivem pelo mundo”, aponta a publicação.

Quando se trata de crianças negras e indígenas, a situação pode se agravar, já que eventos extremos intensificam desigualdades estruturais que atingem esses grupos historicamente. 

A importância de políticas públicas para a primeira infância

Para garantir o bem-estar de bebês e crianças, não basta  a ação dos cuidadores e responsáveis, é essencial que existam políticas públicas que fortaleçam a atenção à primeira infância com estratégias de adaptação e mitigação da crise do clima. 

Os dados da pesquisa Panorama da Primeira Infância mostram que apenas 15% dos entrevistados acreditam que as mudanças do clima vão promover maior consciência ambiental nas novas gerações e só 6% acreditam que a sociedade encontrará soluções para reduzir os danos. 

“A proteção à criança, desde a primeira infância, precisa entrar na agenda climática. Não podemos mais falar desses assuntos de forma separada. É urgente que as políticas públicas sejam construídas considerando todos os impactos que esse grupo está exposto. É responsabilidade de todos garantir que bebês e crianças pequenas tenham prioridade absoluta — em saúde, educação e proteção — diante da crise que já atinge suas vidas”, ressalta Mariana Luz.

Metodologia usada na pesquisa

A pesquisa foi realizada em abril de 2025, com uma amostra nacional de 2.206 pessoas, sendo 822 responsáveis por crianças de 0 a 6 anos. Elas foram ouvidas em entrevistas presenciais em pontos de fluxo populacional. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para a amostra geral e 3 pontos percentuais para o grupo de responsáveis por crianças. 

Em agosto, foi lançada a primeira parte da pesquisa “Panorama da Primeira Infância: O que o Brasil sabe, vive e pensa sobre os primeiros seis anos de vida”, focada na percepção da sociedade sobre o conceito da primeira infância. A pesquisa também observou a relação do cuidador com a criança, atividades cotidianas e uso de telas e disciplinas punitivas. 

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