Primeira infância e brincar livre: exposição a telas ainda é alta entre crianças de zero a seis anos
Pesquisa realizada pela Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, em parceria com o Datafolha, mostrou que 78% das crianças de 0 a 3 anos estão expostas diariamente às telas. Esse número é ainda maior entre as de 4 a 6 anos, chegando a 94%
Published on 09/09/2025 03:20, by Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal

A Sociedade Brasileira de Pediatria desaconselha que crianças de 0 a 2 anos tenham contato com telas e outros aparelhos eletrônicos. Conforme vão crescendo, o uso de telas feito pelas crianças também deve ser mínimo.
Contudo, pesquisas mostram o contrário dessa realidade. De acordo com o levantamento “Panorama da Primeira Infância: O que o Brasil sabe, vive e pensa sobre os primeiros seis anos de vida”, realizado pela Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, em parceria com o Datafolha, crianças de 0 a 2 anos ficam em média 2 horas por dia usando telas.
Esse cenário é o contrário do que especialistas propõem. A recomendação da Sociedade Brasileira de Pediatria é que crianças nessa faixa etária não tenham contato com telas. Entre 2 e 5 anos, o limite recomendado é de até 1 hora por dia e dos 6 aos 10, entre 1 e 2 horas.
A pesquisa mostrou que 78% das crianças de 0 a 3 anos estão expostas diariamente às telas. Esse número é ainda maior entre as de 4 a 6 anos, chegando a 94%.
“Diversos estudos mostram que há uma relação entre o tempo de tela e o risco de problemas de saúde mental, como ansiedade e depressão. Além disso, o uso excessivo dessas tecnologias na infância pode afetar negativamente o desenvolvimento infantil, causando problemas como obesidade, isolamento social, dor muscular, déficit de atenção, hiperatividade e queda no rendimento escolar”, Mariana Luz, CEO da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal.
O Panorama da Primeira Infância revelou que somente 55% da população brasileira acredita que o uso de telas nos primeiros anos de vida afeta a saúde das crianças.
Com quais atividades as crianças passam seu tempo?
Quanto menos tempo em frente às telas e mais tempo com brincadeiras ao ar livre, melhor para as crianças. Entre os entrevistados da pesquisa, a maioria acredita que elas passam tempo adequado realizando atividades sociais como conversar, brincar ou passear.
Apesar disso, há uma preocupação relacionada ao tempo despendido em frente a TVs, tablets e celulares. 4 em cada 10 entrevistados avaliam que as crianças passam mais tempo do que deveriam com dispositivos eletrônicos.
“O desafio não é simplesmente desligar as telas, mas construir com as crianças uma relação mais equilibrada com o tempo, o corpo e o afeto. Não podemos esquecer que, para algumas famílias, o celular pode atuar como uma rede de apoio, uma distração para que a mãe ou cuidadora possa realizar outras tarefas. Não podemos julgar essa mãe, mas oferecer alternativas que substituam isso”, finaliza Luz.
Brincar ao ar livre
Quando questionadas sobre as melhores formas para uma criança gastar o seu tempo, realizar brincadeiras ao ar livre e praticar atividades físicas é o que defende mais de 50% das pessoas ouvidas.
“Na hora que o cérebro mais precisa dos estímulos do mundo real – do olhar, do toque, do movimento, da brincadeira ao ar livre, da convivência e da natureza – a gente está restringindo a criança a uma tela. As consequências disso são sérias: prejuízos na linguagem, na criatividade, na atenção, no sono, na saúde física, no desenvolvimento socioemocional. E menos da metade da população sabe disso”, afirma o pediatra Daniel Becker.
Estar em contato constante com telas causa impactos nocivos diversos às crianças. Essa percepção aparece tanto na fala de especialistas e pesquisadores da área, quanto de cuidadores e população em geral.
Aproximadamente 40% das pessoas ouvidas na pesquisa afirmaram que o uso de telas torna as crianças mais agitadas e agressivas, e outros 56% relataram que o uso desses dispositivos impacta diretamente na saúde das crianças, prejudicando a visão e os movimentos, por exemplo.
Como a pesquisa foi feita
A pesquisa “Panorama da Primeira Infância: O que o Brasil sabe, vive e pensa sobre os primeiros seis anos de vida” foi realizada entre os dias 8 e 10 de abril de 2025 com uma amostra nacional, por meio de entrevistas presenciais em pontos de fluxo populacional. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para a amostra geral e 3 pontos para os responsáveis por crianças. No total, 2.206 entrevistas foram realizadas (amostra nacional), sendo que 31% são responsáveis pelo cuidado de bebês e crianças de até 6 anos.