Última chamada do “Good Start Challenge”: edital vai premiar projetos de apoio à parentalidade positiva
Como parte da divulgação do Good Start Challenge, webinar contou com a participação de Preto Zezé, Mafoane Odara e Merlina Carlota, que trocaram experiências sobre cuidados na primeira infância
Published on 03/09/2025 03:34, by Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal

Pensar em um desenvolvimento potente na primeira infância requer incluir na conversa as pessoas encarregadas pelo cuidado. Quando uma criança nasce, com ela também nascem pais e mães e muitas alegrias e desafios a serem enfrentados. A depender de onde estão essas famílias e de condições como classe, raça e renda, esses desafios se ampliam.
Encontrar soluções inovadoras é o que almeja o edital global Good Start Challenge, que vai distribuir 2,6 milhões de euros a projetos que melhorem o bem-estar de cuidadores e famílias de crianças pequenas e em situação de vulnerabilidade. No Brasil, o foco está em soluções para comunidades negras, indígenas e populações tradicionais. As inscrições estão abertas somente até o dia 17 de setembro, sem prorrogação. Acesse o site da iniciativa para fazer sua inscrição!
“O cuidado não é único, as famílias têm múltiplos arranjos e estamos muito interessados que esse desafio traga soluções e inovações que possam dar visibilidade para os múltiplos contextos, infâncias e formas de cuidar”, afirma Marina Fragata Chicaro, diretora de Políticas Públicas da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal.
No webinar “Desafios e caminhos da parentalidade na primeira infância”, promovido pela Fundação para ampliar a divulgação do edital no Brasil, Chicaro lembrou que o país possui atualmente mais de 50% da população de 0 a 6 anos no CadÚnico (Cadastro Único para Programas Sociais), instrumento governamental que mapeia informações e dados de famílias de baixa renda.
“Isso mostra que mais da metade das crianças na primeira infância estão vivenciando alguma ou a sobreposição de diferentes adversidades e seus cuidadores também”, disse.
Assista ao webinar na íntegra:
Cuidadores do presente cuidando do futuro
Mafoane Odara, psicóloga e mestre em Psicologia pela USP, referência nas discussões sobre diversidade, equidade e inclusão no ambiente corporativo e público, avalia que é importante observar com atenção quem está encarregado dos cuidados atualmente, porque isso se refletirá no futuro das crianças. Não olhar para os cuidadores, segundo ela, é permitir a perda em dimensões individuais, sociais e culturais.
Durante o webinar, ela reforçou a importância de trazer e colocar no debate as políticas que de fato são materiais. “Se tem uma coisa que a gente precisa olhar para o nosso momento é que nenhum problema complexo vai ser resolvido de forma simples. Para ele ser resolvido de forma complexa, precisamos aprender a trabalhar coletivamente, e vamos precisar conectar diferentes áreas como saúde, educação e desenvolvimento econômico”, destacou.
Pensar em soluções para diferentes infâncias
Assim como as realidades de muitas crianças são diversas, as infâncias também são. Melina Carlota, antropóloga, indígena do povo Makuxi e pesquisadora no projeto Woman Climate Defenders do Instituto Zé Cláudio e Maria, lembrou que crianças indígenas desde cedo são encorajadas a lidar com as próprias emoções, a entender o que estão sentindo e crescer de forma autônoma.
Essa maneira de ver o mundo precisa estar no radar de quem cria soluções e pensa em políticas públicas na área. “Se formos pensar em política pública, temos que pensar na diversidade e especificidade dos povos indígenas, porque talvez um projeto de política pública pode funcionar bem em um povo e no outro não. Pensar no bem-estar é construir com a comunidade, formar profissionais que vão fazer esse atendimento de uma forma que consigam dialogar com a questão cultural, respeitando os saberes”, ponderou.
A realidade das crianças nas favelas, por exemplo, também é outra. Os desafios observados pelos cuidadores dessas regiões, muitas vezes, passam longe dos olhos do poder público. É o que destaca Preto Zezé, cofundador da Central Única das Favelas (CUFA) e presidente da CUFA Rio de Janeiro.
A impossibilidade de ter lideranças que participem ativamente de discussões, fóruns e espaços de tomada de decisão impacta na criação de políticas públicas e projetos direcionados para áreas específicas, ele pontua. “Tivemos um esvaziamento e fragilização de lideranças nos territórios de áreas urbanas, o que se reflete na capacidade de mobilização”, disse.
Nos territórios apontados por Preto Zezé, as mães são a principal figura de cuidado, e todas as decisões que sua organização toma contam com a participação dessas mulheres. “Elas são metade das lideranças nos territórios de favela. Não há nada em nenhuma hipótese, projeto ou programa que façamos, que as mulheres não estejam presentes na elaboração, pensamento da estratégia ou concepção da inteligência de como vamos atuar”.
Good Start Challenge: inovação para fortalecer a parentalidade na primeira infância
Join Good Start Challenge é uma iniciativa da Van Leer Foundation e conta com o apoio da FEMSA Foundation, Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal e LEGO Foundation. O desafio foi desenhado e executado pela Challenge Works, organização especialista em prêmios de inovação ao redor do mundo.
Buscando fortalecer o apoio às famílias com crianças na primeira infância e contribuir com a parentalidade positiva, o edital tem foco em encontrar soluções para desafios comuns vividos por cuidadores no Sudeste Asiático, África Subsaariana e América Latina. Acesse o site da iniciativa para fazer sua inscrição!
Podem participar empresas, organizações da sociedade civil, pesquisadores, centros de inovação, redes e especialistas em desenvolvimento infantil de todo o mundo.
A lista com até 22 projetos selecionados será divulgada em novembro deste ano, e cada um poderá receber €50 mil, além de apoio técnico para ampliação de suas soluções. Em julho de 2026, até seis vencedores serão premiados com €200 mil cada para impulsionar ainda mais seu impacto.