Clima e telas: os novos desafios para o cuidado com crianças na primeira infância
Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal atualiza guia sobre primeira infância com informações sobre impactos das mudanças climáticas e do uso excessivo de telas para o desenvolvimento infantil
Publicado em 11/04/2025 04:04, por Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal

Em um mundo cada vez mais marcado pela emergência climática e pelo avanço dos dispositivos digitais, os cuidados com a primeira infância precisam acompanhar as transformações do nosso tempo. É com esse olhar atento que a Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal atualizou o guia Os primeiros anos em suas mãos, incorporando dois temas urgentes e atuais no documento: as mudanças climáticas e o uso de telas.
As crianças já são as mais atingidas pela crise do clima. Questões como deslocamentos forçados, insegurança alimentar, aumento de doenças respiratórias, prejuízos no aprendizado e ansiedade climática afetam diretamente seu desenvolvimento físico, emocional e cognitivo. E a crise não atinge todas as infâncias da mesma forma: as desigualdades provocadas pelo racismo ambiental expõem ainda mais as crianças negras e indígenas.
O guia apresenta também os principais impactos das telas na primeira infância, alertando sobre os prejuízos ao desenvolvimento infantil, à privacidade e à segurança digital. A exposição precoce e prolongada a dispositivos eletrônicos reduz o tempo de interações familiares, das brincadeiras e do sono, essenciais nessa fase da vida. As experiências, os laços afetivos e os vínculos são insubstituíveis nos primeiros anos.
Os impactos da crise do clima
A nova seção sobre mudanças climáticas traz um panorama de dados que contextualizam o cenário atual. Levantamento do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) citado no guia, por exemplo, mostra que 40 milhões de crianças e adolescentes com menos de 18 anos de idade estão expostas a mais de um risco climático, afetando de forma mais severa aquelas com até 6 anos.
Entre os riscos mais recorrentes estão a falta d’água, enchentes, ondas de calor e poluição — esta última, responsável por mais de 600 mortes anuais de crianças brasileiras com até 5 anos, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).
O estudo internacional Climate change and educational attainment in the global tropics aponta, ainda, que crianças que enfrentam temperaturas com desvio padrão acima da média tendem a ter até um ano e meio a menos de escolaridade em comparação àquelas expostas a temperaturas médias.
Deslocamento forçado e saúde mental das crianças
Dados do UNICEF também revelam que cerca de 1,5 milhão de crianças brasileiras poderão ser forçadas a se deslocar pelos próximos 30 anos por causa de inundações, tempestades e outros eventos climáticos. A ruptura dos vínculos familiares, a falta de abrigo, o acesso limitado a serviços básicos e a exposição à violência decorrentes desse deslocamento comprometem o desenvolvimento infantil pleno, com repercussão, principalmente, na saúde mental.
Segundo a Associação Americana de Psicologia, 45% das crianças sofrem de depressão após um desastre climático extremo. A chamada ansiedade climática, ou ecoansiedade, provoca insegurança, isolamento e maior dependência dos cuidadores, agravando sintomas como medo, pesadelos, tristeza e perda de apetite.
Telas e primeira infância: os perigos do excesso
Além das ameaças climáticas, outro desafio contemporâneo que exige atenção no cuidado com a primeira infância é o uso crescente de telas e dispositivos eletrônicos, que impacta diretamente o modo como as crianças crescem, aprendem e se relacionam. A exposição prolongada às telas pode afetar a linguagem, a criatividade e as habilidades socioemocionais e motoras.
Nos primeiros anos de vida, as crianças aprendem por meio de experiências significativas, mediadas por interações, estímulos e cuidados que não podem ser substituídos por televisores, computadores, tablets e smartphones. Por isso, a Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda evitar ao máximo o uso de telas por crianças menores de 2 anos e limitar o tempo para até uma hora diária, com supervisão, para aquelas com idade entre 2 e 5 anos.
Apesar das orientações, as crianças estão entrando em contato com a internet e adquirindo celulares cada vez mais cedo. Análise do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br) mostra que, em 2024, 44% das crianças entre 0 e 2 anos já utilizam a internet, e entre aquelas de 3 a 5 anos, o percentual chega a 71%.
O aumento do tempo de tela está associado a prejuízos como sedentarismo, redução da interação com a família e cuidadores e maior risco de problemas de saúde mental. Cada minuto a mais diante das telas reduz significativamente a comunicação entre pais e filhos, além de aumentar quadros de excitação, insônia e ansiedade.
A ausência de supervisão no ambiente digital expõe as crianças a uma série de riscos, como o acesso a conteúdos impróprios, publicidade abusiva e o vazamento de informações pessoais. Soma-se a isso a prática do sharenting — o compartilhamento de fotos e vídeos de crianças por familiares e cuidadores nas redes sociais —, que pode comprometer a privacidade dos pequenos e abrir espaço para o uso indevido de imagens, manipulação por inteligência artificial, cyberbullying e assédio virtual.
Para conhecer os dados, acesse a publicação completa de Os primeiros anos em suas mãos em nossa biblioteca digital.